Sexualidade é um tema nem sempre tratado com naturalidade e
espontaneidade pela grande maioria das pessoas, pois esta tarefa
implica o (re)conhecimento e a confrontação de valores, conceitos e
preconceitos tão bem guardados e até mesmo escondidos nas profundezas da
nossa intimidade. A vinda à tona de determinados sentimentos,
pensamentos e atitudes provoca, por sua vez, a saída ou o abandono de um
lugar no qual nos abrigávamos à sombra de uma comodidade alienante.
Querendo, a todo custo, evitar em nós o surgimento de constrangimentos e mal-estar
nos convencemos de que os conhecimentos já elaborados nos são
suficientes e nada mais precisa ser repensado.
Deficiência é outro tema que também nem sempre é tratado com
naturalidade e espontaneidade pela grande maioria das pessoas, pois está
constantemente revestida com nossos mitos, tabus e fantasias - frutos do
desconhecimento e do grande receio que ainda trazemos em nos percebermos
como aprendizes do convívio com a diferença. Esta dificuldade revela
nossa incapacidade em considerar que os episódios da vida acontecem e se
desenvolvem não apenas pelos modelos convencionais estipulados pelo
homem, mas também por vias alternativas. A Aceitação desta possibilidade
implica a educação e a recomposição dos nossos sentimentos, pensamentos
e atitudes e muitas vezes não estamos dispostos a tais mudanças porque
isto significa a exposição das nossas vulnerabilidades. Como ainda temos
a tendência exacerbada de pensar que não possuímos estas
vulnerabilidades, lacunas ou inadequações, preferimos nos isolar na
pseudo serenidade tecida pela negação e, de vez em quando, nos
permitimos algumas lágrimas diante da dor e da necessidade do outro para
não esquecermos de que, afinal de contas, somos seres humanos.
A conversação sobre sexualidade e deficiência é menos ainda estabelecida
de modo natural e espontâneo pela maioria da grande maioria das pessoas
porque, se isoladamente a abordagem da sexualidade e da deficiência
consiste overdoses para a nossa prepotência quanto a sermos
detentores de supostos saberes, esta associação agora
representa um verdadeiro tsunami para o nosso orgulho em
reconhecermo-nos como seres limitados, falíveis e medrosos. Assim, para
adiarmos a erupção dos nossos melindres, negligenciamos, tangenciamos ou
até mesmo omitimos a realidade da presença da sexualidade nas pessoas
com deficiência.
Mas como evitar falar em deficiência quando esta pode surgir a qualquer
momento na vida de qualquer pessoa? Mas como evitar conversar sobre a
sexualidade quando esta sexualidade, sem prevenção e desorientada, pode
causar a deficiência ou a deficientização a partir de doenças
sexualmente transmissíveis, estupros e violências?
Com frequência, vivenciamos duas espécies de discursos: um,
completamente encharcado por um narcisismo institucional ou intelectual,
banaliza tanto sexualidade quanto deficiência a uma simples frase
"todos somos iguais" e não o somos; outro, repleto de vitimização e de
indigência intelectual, reduzindo a omissão de comportamentos
interativos à frase "não estamos preparados para isto", quando nem todos
estamos e somente passamos a nos enriquecer com estes conhecimentos na
busca da (in)formação e na convivência diária com a diferença. Como nos
sentiríamos ao conviver com pessoas que tudo sabem e tudo podem, não
abrindo espaços para intercâmbios e trocas desde sociais até afetivas?
Como nos sentiríamos ao procurarmos o médico e ele nos dissesse que, em
sua formação, não recebeu conhecimento sobre o tratamento da nossa patologia e não
se mostrasse disponível à atualizações? Agora, que tal nos colocarmos
nestas situações e procurarmos entender o que acontece quando deste modo nos
comportamos em relação aos outros?
Assim procedendo, talvez tenhamos mais facilidade para o entendimento de
que falar sobre sexualidade, sobre deficiência e sobre sexualidade e
deficiência é um convite à aprendizagem da escuta do outro, da leitura
das suas necessidades nas entrelinhas do seu estar no mundo, percebendo
nuances e particularidades que o tornam individual e singular. Mais do
que isto, possamos perceber então que falar sobre sexualidade e sobre
deficiência significa falar de e em nós - frágeis seres humanos
transfigurados pelas máscaras culturais que determinam papéis, funções e
comportamentos estereotipados para todos.
Talvez, esta reflexão pareça cruel e assemelhe-se a uma incisão cirúrgica
de grandes proporções em nosso ego. No entanto, que mudanças acontecem
sem mudanças, sem remexidas, sem oxigenações? Análise, avaliação e
descarte de muitos de nossos sentimentos, pensamentos e atitudes podem
causar muita dor, mas geralmente dói mais ainda nos darmos conta de que
estamos nos tornando reféns da nossa ignorância e gerando
constrangimentos e sofrimentos para nós mesmos e para os outros
através da frieza, da omissão e da intolerância.
Hoje, expressões como acessibilidade e desenho universal estão bastante
presentes e muitas pessoas logo associam tais expressões à construção de
rampas, colocação de pisos táteis, aquisição de tecnologias assistivas e
de tantas outras facilidades para a mobilidade social das pessoas com
deficiência. No entanto, em todo este processo, a antiga e tão real
"barreira atitudinal" é quase sempre deixada de lado. É excelente termos
escolas ou espaços na área da saúde instrumentalizados ergonômica e
tecnologicamente para o recebimento de pessoas com deficiência, mas em
quantos destes locais estas mesmas pessoas deixam de participar porque
não houve o acolhimento humano indispensável para uma intercomunicação
efetiva?
A convivência e o desenvolvimento da atividade profissional implicam
reeducar-se com um olhar sensível e uma escuta disponível às próprias
dificuldades e facilidades, direcionando o hábito deste comportamento
para as demais pessoas. Então, juntos organizarmos e construirmos as
estratégias compatíveis para o atendimento das necessidades específicas
de uma determinada deficiência para que, através da corresponsabilização
e do trabalho em rede, possamos envolver nosso grupo social nas mudanças
atitudinais.
Informações sobre sexualidade e sobre deficiência estão circulantes em
livros, mídias, campanhas e tantas outras criatividades na ânsia pelo
enfrentamento ao desconhecimento, mas quantas destas informações estão
verdadeiramente disponíveis de forma adequada ao entendimento,
assimilação e compreensão pela pessoa com deficiência? Vamos a um
pequeno exercício da nossa prática. Em um determinado posto de saúde há
um local para a disponibilização de preservativos. Quais são os
mecanismos empregados pelos profissionais deste posto para a informação
efetiva de uma pessoa com deficiência visual sobre a existência deste
local? Quem ocupa-se com o esclarecimento desta pessoa sobre o modo de
usar este preservativo se na embalagem há indicações? No entanto,
estas indicações não são úteis para a pessoa com deficiência visual,
pois ela obviamente não tem acesso as mesmas. Em uma determinada escola,
o professor desenvolve com seus alunos uma atividade sobre sexualidade
e, injustificavelmente, é comum que deixe de lado o aluno com
deficiência e passe esta responsabilidade para um professor
especializado, esquecendo-se de que, na verdade, ele é o responsável pelo
processo educativo inclusive daquele aluno e de que o professor
especializado tem como uma das funções a coconstrução, junto a este
professor, de esclarecimentos e estratégias específicas e não a sua
substituição.
Os constantes alertas trazidos pelas estatísticas e pela observação da
realidade mostram-nos que "as coisas não vão bem" e, por isto e muito
mais, torna-se urgente repensar nossa prática profissional e desenvolver
o bom-senso, admitindo que a vaidade que impulsiona atitudes inadequadas
é tão prejudicial quanto a timidez que sustenta a omissão.
É preciso equipar-se mas não apenas de tecnologias, de informações nas
diversas áreas do conhecimento e de
estratégias, mas principalmente de sensibilidade para interagir com a
diferença se quisermos realmente combater o vírus do preconceito e nos
libertarmos da ignorância.
espontaneidade pela grande maioria das pessoas, pois esta tarefa
implica o (re)conhecimento e a confrontação de valores, conceitos e
preconceitos tão bem guardados e até mesmo escondidos nas profundezas da
nossa intimidade. A vinda à tona de determinados sentimentos,
pensamentos e atitudes provoca, por sua vez, a saída ou o abandono de um
lugar no qual nos abrigávamos à sombra de uma comodidade alienante.
Querendo, a todo custo, evitar em nós o surgimento de constrangimentos e mal-estar
nos convencemos de que os conhecimentos já elaborados nos são
suficientes e nada mais precisa ser repensado.
Deficiência é outro tema que também nem sempre é tratado com
naturalidade e espontaneidade pela grande maioria das pessoas, pois está
constantemente revestida com nossos mitos, tabus e fantasias - frutos do
desconhecimento e do grande receio que ainda trazemos em nos percebermos
como aprendizes do convívio com a diferença. Esta dificuldade revela
nossa incapacidade em considerar que os episódios da vida acontecem e se
desenvolvem não apenas pelos modelos convencionais estipulados pelo
homem, mas também por vias alternativas. A Aceitação desta possibilidade
implica a educação e a recomposição dos nossos sentimentos, pensamentos
e atitudes e muitas vezes não estamos dispostos a tais mudanças porque
isto significa a exposição das nossas vulnerabilidades. Como ainda temos
a tendência exacerbada de pensar que não possuímos estas
vulnerabilidades, lacunas ou inadequações, preferimos nos isolar na
pseudo serenidade tecida pela negação e, de vez em quando, nos
permitimos algumas lágrimas diante da dor e da necessidade do outro para
não esquecermos de que, afinal de contas, somos seres humanos.
A conversação sobre sexualidade e deficiência é menos ainda estabelecida
de modo natural e espontâneo pela maioria da grande maioria das pessoas
porque, se isoladamente a abordagem da sexualidade e da deficiência
consiste overdoses para a nossa prepotência quanto a sermos
detentores de supostos saberes, esta associação agora
representa um verdadeiro tsunami para o nosso orgulho em
reconhecermo-nos como seres limitados, falíveis e medrosos. Assim, para
adiarmos a erupção dos nossos melindres, negligenciamos, tangenciamos ou
até mesmo omitimos a realidade da presença da sexualidade nas pessoas
com deficiência.
Mas como evitar falar em deficiência quando esta pode surgir a qualquer
momento na vida de qualquer pessoa? Mas como evitar conversar sobre a
sexualidade quando esta sexualidade, sem prevenção e desorientada, pode
causar a deficiência ou a deficientização a partir de doenças
sexualmente transmissíveis, estupros e violências?
Com frequência, vivenciamos duas espécies de discursos: um,
completamente encharcado por um narcisismo institucional ou intelectual,
banaliza tanto sexualidade quanto deficiência a uma simples frase
"todos somos iguais" e não o somos; outro, repleto de vitimização e de
indigência intelectual, reduzindo a omissão de comportamentos
interativos à frase "não estamos preparados para isto", quando nem todos
estamos e somente passamos a nos enriquecer com estes conhecimentos na
busca da (in)formação e na convivência diária com a diferença. Como nos
sentiríamos ao conviver com pessoas que tudo sabem e tudo podem, não
abrindo espaços para intercâmbios e trocas desde sociais até afetivas?
Como nos sentiríamos ao procurarmos o médico e ele nos dissesse que, em
sua formação, não recebeu conhecimento sobre o tratamento da nossa patologia e não
se mostrasse disponível à atualizações? Agora, que tal nos colocarmos
nestas situações e procurarmos entender o que acontece quando deste modo nos
comportamos em relação aos outros?
Assim procedendo, talvez tenhamos mais facilidade para o entendimento de
que falar sobre sexualidade, sobre deficiência e sobre sexualidade e
deficiência é um convite à aprendizagem da escuta do outro, da leitura
das suas necessidades nas entrelinhas do seu estar no mundo, percebendo
nuances e particularidades que o tornam individual e singular. Mais do
que isto, possamos perceber então que falar sobre sexualidade e sobre
deficiência significa falar de e em nós - frágeis seres humanos
transfigurados pelas máscaras culturais que determinam papéis, funções e
comportamentos estereotipados para todos.
Talvez, esta reflexão pareça cruel e assemelhe-se a uma incisão cirúrgica
de grandes proporções em nosso ego. No entanto, que mudanças acontecem
sem mudanças, sem remexidas, sem oxigenações? Análise, avaliação e
descarte de muitos de nossos sentimentos, pensamentos e atitudes podem
causar muita dor, mas geralmente dói mais ainda nos darmos conta de que
estamos nos tornando reféns da nossa ignorância e gerando
constrangimentos e sofrimentos para nós mesmos e para os outros
através da frieza, da omissão e da intolerância.
Hoje, expressões como acessibilidade e desenho universal estão bastante
presentes e muitas pessoas logo associam tais expressões à construção de
rampas, colocação de pisos táteis, aquisição de tecnologias assistivas e
de tantas outras facilidades para a mobilidade social das pessoas com
deficiência. No entanto, em todo este processo, a antiga e tão real
"barreira atitudinal" é quase sempre deixada de lado. É excelente termos
escolas ou espaços na área da saúde instrumentalizados ergonômica e
tecnologicamente para o recebimento de pessoas com deficiência, mas em
quantos destes locais estas mesmas pessoas deixam de participar porque
não houve o acolhimento humano indispensável para uma intercomunicação
efetiva?
A convivência e o desenvolvimento da atividade profissional implicam
reeducar-se com um olhar sensível e uma escuta disponível às próprias
dificuldades e facilidades, direcionando o hábito deste comportamento
para as demais pessoas. Então, juntos organizarmos e construirmos as
estratégias compatíveis para o atendimento das necessidades específicas
de uma determinada deficiência para que, através da corresponsabilização
e do trabalho em rede, possamos envolver nosso grupo social nas mudanças
atitudinais.
Informações sobre sexualidade e sobre deficiência estão circulantes em
livros, mídias, campanhas e tantas outras criatividades na ânsia pelo
enfrentamento ao desconhecimento, mas quantas destas informações estão
verdadeiramente disponíveis de forma adequada ao entendimento,
assimilação e compreensão pela pessoa com deficiência? Vamos a um
pequeno exercício da nossa prática. Em um determinado posto de saúde há
um local para a disponibilização de preservativos. Quais são os
mecanismos empregados pelos profissionais deste posto para a informação
efetiva de uma pessoa com deficiência visual sobre a existência deste
local? Quem ocupa-se com o esclarecimento desta pessoa sobre o modo de
usar este preservativo se na embalagem há indicações? No entanto,
estas indicações não são úteis para a pessoa com deficiência visual,
pois ela obviamente não tem acesso as mesmas. Em uma determinada escola,
o professor desenvolve com seus alunos uma atividade sobre sexualidade
e, injustificavelmente, é comum que deixe de lado o aluno com
deficiência e passe esta responsabilidade para um professor
especializado, esquecendo-se de que, na verdade, ele é o responsável pelo
processo educativo inclusive daquele aluno e de que o professor
especializado tem como uma das funções a coconstrução, junto a este
professor, de esclarecimentos e estratégias específicas e não a sua
substituição.
Os constantes alertas trazidos pelas estatísticas e pela observação da
realidade mostram-nos que "as coisas não vão bem" e, por isto e muito
mais, torna-se urgente repensar nossa prática profissional e desenvolver
o bom-senso, admitindo que a vaidade que impulsiona atitudes inadequadas
é tão prejudicial quanto a timidez que sustenta a omissão.
É preciso equipar-se mas não apenas de tecnologias, de informações nas
diversas áreas do conhecimento e de
estratégias, mas principalmente de sensibilidade para interagir com a
diferença se quisermos realmente combater o vírus do preconceito e nos
libertarmos da ignorância.
Disponível em:
http://www.diversidadeemcena.net
Nenhum comentário:
Postar um comentário